segunda-feira, 26 de abril de 2010

Felicidade Sintética



Fizemos uma aula sobre a Felicidade Sintética, conceito retirado da genial palestra de DanGilbert, postada acima.

Quando falamos de sintetizar felicidade não tratamos da tacada boa, da jogada de sorte, quando nos damos bem. Falamos do azar. Quando as coisas não vão bem, os dados caíram para o lado "errado" e mesmo assim, para surpresa geral, ficamos felizes.

São os exemplos da vida cotidiana, como o casamento que se desfez a custa de muitas lágrimas e depois é entendido como parte fundamental da felicidade presente. A tal ponto que não desejo que ele não tenha existido e nem desejo que não houvesse lágrimas. Compreendemos que a felicidade só é possível hoje porque vivemos aquilo.

Esta é a capacidade do nosso cérebro de processar felicidade diante de eventos desagradáveis. Desconfiamos dela quando vemos no outro: "Você não queria aquele dinheiro? Yeah, right" "É mais feliz agora que levou um pé na bunda? Yeah, right".

Não podemos acreditar, nosso cérebro simula a mesma experiência e verifica que não ganhar aquele dinheiro ou ganhar aquele pé na bunda não pode trazer felicidade. Estamos errados. Para quem viveu a experiência isto trouxe felicidade, ela a sintetizou a partir de sua vida.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O FEIO QUE PODE SER BONITO



26/04, 2a feira, 20h, no Cinebancários -
Rua General Câmara, 424 - Centro
(Pertinho do Theatro São Pedro)
EVENTO GRATUITO

Cineterapia exibe "Homem Elefante" com entrada franca e faz debate com Claudia Tajes sobre a tirania da estética.

O projeto Cineterapia apresenta o "Homem Elefante", de David Lynch. Com entrada franca, a exibição será nesta segunda (26/4), às 20h, no Cinebancários (Rua General Câmara, 424 - Centro), em Porto Alegre.

A escritora Claudia Tajes é a convidada especial para a discussão cinematográfica. A badalada autora do romance "A Vida Sexual da Mulher Feia" comentará sobre a exclusão do diferente e a maldade das aparências, com mediação dos terapeutas Cínthya Verri e Roberto Azambuja.
Em sua 4ª edição, o projeto disponibiliza clássicos que tematizam a saúde mental e ainda possibilita análise comportamental por destacados pensadores, psiquiatras e escritores gaúchos.

O Homem Elefante tornou-se um cult instantâneo na década de 80, com oito indicações ao Oscar. Foi o primeiro grande filme de Lynch, que seguiria com uma das carreiras autorais mais significativas e polêmicas dos Estados Unidos ("Veludo Azul" e "Estrada Perdida", por exemplo).
Estrelado por Anthony Hopkins, John Hurt, Anne Bancroft e John Gielgud, acompanha a trajetória perturbadora do inglês John Merrick (1862-1890), portador de uma doença que provocou deformidades em 90% do corpo.

Numa parceria do Sindibancários e do Espaço Cultural Clínica Verri, as sessões estão previstas sempre para última segunda de todo mês. O objetivo é colocar o cinema como extensão psicanalítica e aprofundar reflexões sobre temas controversos da atualidade como alienação parental, precocidade sexual e fobias.

Natural de Porto Alegre, publicitária, criadora de seis obras entre contos e romances e uma das integrantes do Sarau Elétrico, a ficcionista Claudia Tajes é assunto do momento pela adaptação do livro "Louca por Homem" pelo canal HBO do Brasil. Com o título "Mulher de Fases", a série terá 13 episódios de trinta minutos. As filmagens começaram em 16 de janeiro e seguem até o fim do mês.

Reservas de ingressos deverão ser feitas por email atendimento@clinicaverri.com.br

terça-feira, 13 de abril de 2010

Dia após dia


"Paradoxymoron", by Patrick Hughes


Confira a crônica da Maria Eloísa sobre tema
muito recorrente para quem
busca a saúde emocional:

Dia Após Dia

Desde pequena, ouvi seguidamente um provérbio que vem de geração em geração, um provérbio para acabar com a alegria e a esperança de qualquer pessoa:

“Dia de muito; véspera de pouco.”

Bastava alguém estar muito feliz, comemorando o fato de ter conseguido algo “difícil” de alcançar, que lá vinha alguém para lembrar: “Dia de muito; véspera de pouco.”

Bastava ver uma adolescente fazendo sucesso com o sexo oposto, esnobando seu magnetismo, que surgia alguma despeitada, ciumenta, para sussurrar para as demais: “Não há de ser nada, dia de muito; véspera de pouco.”

Ou ainda:

“Puxa, mas fulano tem sorte mesmo, consegue tudo que quer, tudo dá certo pra ele!

“É, mas por enquanto. Nunca ouviste o ditado: Dia de muito; véspera de pouco?”

Pois bem, esse ditado apequenador, rasteiro, transmitido, a meu ver, intencionalmente, para que ninguém levante vôo, desagradou-me tanto, e durante tanto tempo, que eu, para me desforrar do pessimismo incutido, inventei este:

“Dia de pouco; véspera de muito.”

Podem acreditar, ele tem me impulsionado permanentemente:

No “dia de muito”, não mais fico temerosa de que tudo acabe, nem me deixo abater no “dia de pouco”, porque vejo que sempre houve e sempre haverá uma seqüência alternada deles.

Basta saber viver o “muito” sem euforia excessiva - a ponto de perder tudo – e agüentar o “pouco” com calma e certa criatividade, pois exatamente o “pouco” pode render os mais suculentos frutos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Terapia da Vida Presente

Arte de Philip Guston

A Casa do Beto abre inscrições para um novo grupo terapêutico: Terapia da Vida Presente.

São dez vagas para abordar problemas particulares, conflitos familiares e dificuldades no ambiente de trabalho. A partir de conversas e exercícios, o objetivo é procurar que cada um compreenda, aceite e potencialize criativamente o próprio temperamento.

Graduado em Filosofia pela UFRGS, com formação em Psicoterapia, Roberto Azambuja atua como professor do curso de Acompanhante Terapêutico da Clínica Verri. Nos encontros, fará o papel de analista da turma, quem conduz os debates propondo uma interação entre diferentes áreas de conhecimento como literatura, cinema, filosofia e psicologia.

A terapia acontece sempre às quartas, das 19h30 às 21h, na Rua Garilbaldi, 1225/202.

Os interessados devem agendar entrevista para seleção.

Investimento: R$120,00 mensais.

Contato: roberto_azambuja@hotmail.com ou 91913679

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Capim Anoni nosso de cada dia.


Capim Anoni – Eragrostis spp

O capim-anoni veio importado por um agrônomo na década de 50. Chegou aos pastos do Rio Grande do Sul travestido de solução para herbívoros. A planta crescia incrivelmente viçosa e se espalhava magicamente.

Mas o Anoni revelou-se uma praga, um caso de contaminação biológica. A espécie disseminou-se e tomou o espaço das leguminosas e outros vegetais nativos. O gado não consegue pastá-lo, os cavalos ficam enfraquecidos. Não conseguimos arrancar o Anoni com a mão. É aquele capim alto e verde que parece de seda. Não cede.

Vejo que estamos sempre atrás do Anoni. Sempre querendo uma solução fantástica, capaz de nos poupar do esforço característico. Queremos uma bondade parada, um atalho, uma curva rápida para cruzar montanhas. Queremos emagrecer sem passar fome, clarear olheiras em cinco minutos, cumprir faculdades e construir carreiras em dois anos. Queremos peelings que não agridam a pele, massageadores que reduzam a gordura, transformar alimentos congelados em uma explosão de sabores usando um novo forno.

Queremos encarnar a cigarra, nunca a formiga. Almejamos parecer os mais espertos. Sonhamos em superar o trabalho árduo a que os outros se submetem.

Não é apenas a arrogância que nos move em direção aos anonis. É também uma ambição invejosa.

O capim-anoni, em seu ambiente natural, não é um problema. Lá ele divide espaço com combatentes originais. Não sabe se alastrar na terra natal. Guarda as proporções de equilíbrio. Somente translocado é que ele se comporta mal.

O mesmo acontece quando vemos a vida de alguém. Selecionamos os aspectos que queríamos ter: muito dinheiro, uma mulher com seios fartos, o jeito de falar especial ou até o cabelo liso. Pinçamos o objeto, como se fosse possível reproduzir as condições originais.

Assim nascem as anorexias nervosas, as bulimias, os transtornos de ansiedade generalizada. Uma ânsia que não sabemos de quê. É a não aceitação de nossa flora nativa, a contaminação biológica do desejo.

Trazemos vontades anoni também – sonhos da mãe, do pai, do marido, da namorada. Vontades que não são as nossas: uma profissão específica, ter muitos filhos, usar roupas claras, sapatos com salto alto. Muitas vezes não é o que faríamos da nossa existência se decidíssemos por nossa conta.

Enxertar uma característica, assumir uma expectativa alheia é o mesmo que plantar o anoni: devastará o pasto, atropelará espaços e acabaremos desnutridos.

O anoni é nossa tentativa perene de aposentadoria.

Confira a Crônica Falada no Camarote TVCOM: