domingo, 13 de setembro de 2009

Curso de Instrução do Acompanhante Terapêutico - Módulo I


Dante e Virgílio no Inferno (1822), de Eugène Delacroix


O Acompanhante Terapêutico é um terapeuta que anda junto. Faz comitiva para os acontecimentos. É platéia interativa na vivência. O AT acontece por dentro do ambiente, por isso mora tão perto dos desejos. O AT divide a memória com a cidade: os muros, as calçadas, os carros, as lojas do bairro, os correios – tudo é ampliador da saúde. As lentes do AT são espelhos de ver-se possível. O AT é uma larga porta de entrada.

O acompanhado apresenta sua vida ao acompanhante: sua cartografia, suas atividades e seus não-fazeres, seus pertences, suas habilidades, suas vontades. Nessa exposição, a pessoa encontra a si mesma, em novas versões que desconhecia ou tinha esquecido. O olhar que reconhece as diferenças, as novidades, os atributos vêm cedidos pelo acompanhante. O AT empresta a si mesmo para o outro descobrir-se.

O AT em geral integra uma equipe de trabalho multiprofissional (psiquiatra, psicanalista, terapeuta familiar, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, entre outros), participa da construção de projetos terapêuticos singulares para cada um.

Seu campo de trabalho é o próprio espaço público, fora das instituições convencionais de tratamento ou consultórios.

O trabalho deste profissional não está vinculado exclusivamente a graves casos psiquiátricos – mas foi neste meio que teve sua origem.

Hoje, o AT desenvolve projetos com os mais diversos quadros clínicos: quadros depressivos, quadros fóbicos, dependentes químicos, distúrbios alimentares, entre muitos outros.

O objetivo é tornar o cliente ativo frente suas dificuldades e sofrimento para superá-los. O trabalho do AT preocupa-se em não permitir que o cliente fique dependente das soluções e formulações criadas pelo terapeuta, mas que desenvolva suas próprias.

É preciso incentivar o movimento de busca no cliente. Levá-lo às suas formulações, reflexões e invenções criativas em seu meio. Também saber pontuá-las, valorizando-as assim quando ocorrerem. É importante a atenção do AT para não se transformar em modelo. Ele possivelmente seja eleito pelo acompanhado como tal, mas a atuação clínica não pode ser baseada nisso.

Quem pode ser AT?

Qualquer pessoa pode tornar-se um AT. Em geral, requisita-se o ensino médio completo para ingressar em um curso de formação. Porém, a coisa mais importante para ser um bom acompanhante, além do treino e da instrução adequada, é a vocação sincera de ajudar alguém a reencontrar-se.

O fazer do AT

O atendimento de um AT dura em média duas horas, mas isso pode variar conforme a necessidade. Existem modalidades de Home Care, onde ATs se revezam para cuidar alguém em casa continuamente.

No caso de uma estrutura psicótica, o AT fará um trabalho de tradução da realidade, o que muitas vezes lembra o zeloso trabalho de uma babá. Mas a escuta e o cuidado nos manejos são totalmente diversos.

Com pacientes neuróticos, o trabalho é geralmente em curto prazo e a questão abordada é mais focal.

Isso varia de caso para caso. Na maioria das vezes, o AT trabalhará fobias sociais, toxicomanias, distúrbios e transtornos em geral que impliquem um trabalho mais voltado às atividades diárias, de reinserção e reinclusão sociocultural.

O que se estuda para ser AT?

Muitos conteúdos podem compor o estudo que é inesgotável. Para o curso, selecionamos os indispensáveis.

Neste módulo veremos tópicos essenciais à base do trabalho:

Introdução à Clínica Ampliada: Clínica Peripatética/ Introdução ao AT/ Análise de Filme
Aula da Base Terapêutico: devem haver outras formas de amor
Aula das Verdades : Genealogia da moral/Metamorfoses/ Trânsito dos afetos
Aula da Psicopatologia: Exame do Estado Mental
Aula de Emergências Psiquiátricas: Abordagem e Contenção em momentos críticos
Aula dos Dilemas: Amigo? Terapeuta? Errar é Terapêutico?
Aula da Família: O trabalho com os familiares
Aula de Casos Clínicos Clássicos

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