domingo, 2 de maio de 2010

Homem Elefante - Epílogo

Segunda-feira, dia 22 de abril, realizamos o Cineterapia com a exibição do Homem Elefante.

O impacto que a história provoca recebeu o bálsamo bem humorado da Cláudia Tajes. Graças a sua leveza que foi possível conversarmos com alegria sobre o difícil que é nosso preconceito.

Outra questão debatida foi relacionada às formas de cuidado: ela atravessa o filme e provoca uma série de interrogações: quem cuida de quem, que efeitos o cuidado produz, quais as relações entre cura e cuidado.

O termo é plural e leva a pensar algumas atitudes dos personagens do filme.

Mr. Bytes, por exemplo, que se entitulou proprietário ("eu cuido dele", "meu tesouro"), era também o homem que explorava, alimentava com batatas, espancava e trancafiava em uma jaula quando descontente. Oferecia sua possibilidade de cuidado.

Atos concretos do cuidar foram reivindicados pela enfermeira-chefe (Motherhead), que pontuou: "eu o banhei, limpei e alimentei, e minhas enfermeiras também".

O médico, por sua vez, enunciou, em resposta ao questionamento do doente: "posso cuidar de você, mas não posso curá-lo".

Ainda, a relação entre John Merrick e Marge Kendal, a atriz de teatro, bastante popular na época, faz pensar.

Ela descobre o paciente por meio de uma notícia de jornal, visita-o no hospital, leva-lhe presentes e se torna sua amiga. Também atua como figura importante na busca de recursos entre a nobreza londrina para a manutenção do doente no hospital. Quando eles recitam um trecho de Romeu e Julieta, ela diz: "Você não é o Homem Elefante... Você é Romeu!".

Possivelmente a ação pontual da atriz ajude Merrick a encontrar em si a própria vocação dramática para o espetáculo, passando a ser ator e não vítima das apresentações.

Mesmo tendo ajudado o paciente, o médico não escapa de enfrentar um dilema ético: "sou bom ou mau?". Estaria realmente cuidando de John Merrick, ou, à semelhança de quem o explorava no circo, estaria exibindo-o em uma outra espécie de circo, do qual faziam parte a alta burguesia londrina e os doutores da cúpula médica da cidade?


Homem Elefante, além dos debates, tem ação artística e curativa. David Lynch e Mel brooks fizeram maravilhosa arte. E Merrick fez consigo o trabalho que nos inspira a viver melhor.

É verdade que a minha forma é um tanto estranha/ Mas culpar-me seria culpar a Deus/Pudesse eu criar a mim mesmo novamente/Eu não falharia em agradar a você./Se eu pudesse alcançar de um pólo a outro/Ou estender a palma da minha mão sobre o oceano/Ainda assim eu seria medido pela alma;/o espírito é a medida do homem.
J. Merrick

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